quarta-feira, 11 de outubro de 2006

Não há almoços de borla... nem férias à custa do Ministério da Saúde


O ministro promete que com as taxas moderadoras, situações como as da figura jamais ocorrerão!


A expressão é conhecida – não há almoços de borla. O significado também é conhecido – tudo tem um custo e alguém terá de o pagar, mesmo se não é quem beneficia das ditas borlas. A expressão ocorreu-me quando li, hoje, a previsão anunciada pelo ministro da saúde, dos custos das taxas moderadoras que o expedito ministro se prepara para introduzir, desta vez para moderar o uso de cirurgias e internamentos nos hospitais públicos.
A primeira nota é que fico a saber que os portugueses, esses danadinhos, afinal pelam-se por uma operaçãozita e por uns dias passados no tranquilo, acolhedor e recatado ambiente duma unidade hospitalar. Sim, porque se assim não fosse, não havia necessidade de o ministro, profundo conhecedor da realidade hospitalar do país, vir agora a introduzir medidas destinadas a “moderar” esse consumo. Se modera é porque ele é excessivo, principalmente excessivo para o esforçado orçamento do estado. Assim, a mensagem que o ministro passa aos malandrecos dos portugueses, que tinham já agendada uma semanita de férias na melhor enfermaria do hospital local, é esta: “Pois, pensavam que era de borla, não?! Agora vão ter de pagar qualquer coisita, mas fiquem tranquilos, sempre será mais baratinho que uma diária no Ritz, no Sheraton ou no Méridien, com a vantagem da comida ser garantidamente mais saudável. Faremos o possível para aumentar, ainda, a já conhecida qualidade dos nossos serviços de hospedagem, para que ao aumento de custo corresponde uma melhoria do serviço”.
Mas porque uma subida nunca vem só, não são só esses malvados, que querem descansar à custa do estado, que têm esta surpresa desagradável. Esses “doentes”, masoquistas, que enchem as nossas listas de espera, à procura de serem cortados, retalhados, cauterizados, ponteados e agrafados, também esses vão deixar de poder usufruir desse prazer à custa do incauto contribuinte. Sim, esses infelizes que se pelam por uma cirurgia que, como todos sabemos, é uma coisa que na maior parte dos casos adoramos fazer, também eles , se querem continuar a usufruir desse mórbido prazer, vão ter de pagar.
E assim, com estas cirúrgicas medidas, se resolve o problema do défice da saúde! ... ... ... hehehe, hehehe, quase vos enganava. Confessem lá, por um instante pensaram que isto resolvia mesmo o problema do financiamento da saúde, não?! Afinal, os portugueses, esses inveterados utilizadores voluntários e prazenteiros dos serviços de saúde públicos, vão apenas pagar 16 milhões de euros com as medidas de moderação do consumo destes serviços, reconhecida e universalmente populares.
16 milhões?! 16 milhões?! ORA, SÓ 16 MILHÕES?! Mas.. isso não é nada! Claro que não é nada!... se atendermos a que esses 16 milhões vão essencialmente ser pagos por quem não pode recorrer à medicina privada (onde as “taxas moderadoras” são um pouquinho mais elevadas). E ainda parece menos se pensarmos que, possivelmente na única medida em que este governo poupa os automobilistas, as famosíssimas SCUT’s, se vão gastar cerca de 700 milhões de euros por ano.

Estranho país. Enquanto uns andam de borla em novíssimas auto estradas, outros pagam para serem internados e operados. Podem acusar-me de demagogia, mas que há algo de profundamente errado com estas prioridades governativas, isso não pode ser negado! E assim vai a teoria da coesão social, posta em prática por um governo socialista, no crepúsculo deste Ano da Graça de 2006.

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