Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da CostaCompletaram-se hoje 26 anos desde um ignominioso dia de Dezembro de 1980. Esse dia é um daqueles dias que não nos saem da memória. Seria um dia como tantos outros, não fosse aquela notícia, que não me sai da memória, à noitinha... E o sobressalto sentido, ainda hoje é vivido, a revolta persiste.
Francisco Sá Carneiro era um verdadeiro líder, um visionário, um homem muito à frente do seu tempo. Como nos fez falta a sua visão, a sua liderança, a sua coragem, a sua frontalidade, ao longo de todos estes anos. Alguns se reclamaram seus herdeiros, nunca ninguém se aproximou, sequer, da sua qualidade, da sua visão, da sua incapacidade para se calar face à mediocridade instalada. Defendeu a economia de mercado quando o mais fácil era defender a estatização. Lutou pela abertura e modernização do sistema político, quando o padrão era outro. Até do ponto de vista dos costumes foi um iconoclasta, não se importando de arrostar com o desagrado do conservadorismo social vigente.
26 depois, e apesar de muitas mudanças, muitas das quais por ela defendidas, já então, uma das maiores evidências do nosso atraso é o facto de ser claro como água que a verdade oficial sobre oque se passou naquele dia de Dezembro de 1980 já não consegue esconder que disso não passa – uma verdade oficial. O encobrimento, com patrocínio do estado, de “companheiros” de governo e partido, do que se passou em Camarate é um triste testemunho de que, no sistema de justiça, pouco mudou desde então. Conservam-se todos os atavismos, todo o terceiro mundismo da justiça formalista, incapaz de apurar, satisfatória e expeditamente, responsabilidades e culpas. É, talvez, um dos melhores paradigmas da necessidade da aplicação do reformismo e coragem política de Sá Carneiro nos dias de hoje.
Sá Carneiro tem hoje, em dia, apesar da divisão ideológica que persiste ainda neste pequeno e terceiro-mundista país, um lugar na mitologia política nacional. É um lugar inteiramente merecido. Tivessemos nós tido, ao longo destes anos, líderes com a coragem, a frontalidade e a vontade e capacidade de reformar um país atrasado que ele tão cedo, evidenciou, e o país seria diferente.
Com ele, naquele 4 de Dezembro já tão distante, mas ainda assim impressionantemente presente, partiu um outro jovem líder que se destacava, Adelino Amaro da Costa. A ambos, bem como aos restantes companheiros da viagem que terminou, obra de mão criminosa, naquele bairro de Camarate, deixo hoje, aqui, a minha homenagem.