A entrada dos clientes de banda larga
Foi noticia recente a “conclusão” da cobertura de todo o país em banda larga, com a ligação da última central da PT, coincidentemente ou talvez não, localizada em Canhestros, Ferreira do Alentejo. Como não podia deixar de ser, o primeiro ministro, presente, exultou com o sucedido, comparando a importância da banda larga ao da electricidade nos séculos XVIII e XIX.
Apesar de não partilhar o primo-ministerial exagero relativamente à comparação entre electricidade e banda larga, é positivo saber que até mesmo os cidadãos da remota Ferreira do Alentejo já podem entusiasmar-se com as delícias da Internet: passar horas em chats para combater a solidão, enviar emails para todo o mundo, falar no Messenger com a vizinha do lado, entregar o IRS pela net, ou até, quem sabe, receber a mais pura e actualizada informação de lugares tão interessantes como o portal do governo ou o sítio da Assembleia da República. Ainda mais interessante é que o possam fazer a velocidades de banda larga e a custos reduzidos.
Esperem aí, eu escrevi "a custos reduzidos"? Peço que me desculpem, deixei-me levar pelo entusiasmo do próprio primeiro ministro, e do seu ilustre ajudante, o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (sim, é esse mesmo em que estão a pensar, o nosso auto-intitulado grande iberista). Sim, porque os cidadãos servidos pela tecnologicamente retocada central de Canhestros, estão sujeitos às canhestras tabelas de preços do operador público de telecomunicações, que obriga a que para aceder a velocidades de 512 Kb (uma das mais estreitas velocidades da larga banda), tenham de desembolsar 40 euros, dos quais 15 são o aluguer mensal da linha da PT), enquanto nas áreas servidas pelos operadores privados, conseguem-se acessos a velocidades bem mais altas a preços consideravelmente mais baixos – 30 euros por 4 Mbit).
Será que custa muito a perceber que, num país como o nosso, se é importante que exista a possibilidade tecnológica do acesso em banda larga, o custo desse acesso desempenha um papel importante na respectiva massificação? Em lugar de louvar o operador público, cujas contas registam pesados lucros, o governo prestaria um enorme serviço à generalização do acesso à Internet em banda larga se combatesse, por via do público regulador do sector, a Anacom, as estratégias da PT para manter artificialmente alto o custo desse acesso? Não se choca o governo por um operador privado oferecer um custo 25% inferior ao do operador público de telecomunicações e em condições tecnologicamente mais favoráveis?!!
Obrigar o operador incumbente a universalizar o acesso por via da redução de custos seria uma medida sensata, pelo menos tão importante como a generalização da possibilidade tecnológica de todos termos banda larga. Custa, assim, a perceber porque não é isso feito. Além do mais, a publicitação de tal medida daria uma bonita sessão propagandística, com grande cobertura mediática e com a satisfação de todos os que ainda estão sujeitos à tirania do operador público.
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