domingo, 16 de julho de 2006

O Gato


(A minha gata Preta, uma portista dorminhoca)


Vem cá, meu belo gato, aqui no meu regaço,

Guarda essas garras devagar,

E nos teus olhos de ágata e aço

Deixa-me aos poucos mergulhar.

Quando meus dedos cobrem de carícias

Tua cabeça e o dócil torso,

E minha mão se embriaga nas delícias

De afagar-te o eléctrico dorso,

Em sonho a vejo. Seu olhar, profundo

Como o teu, amável felino,

Qual dardo dilacera e fere fundo,

E, dos pés a cabeça, um fino

Ar subtil, um perfume que envenena

Envolvem-lhe a carne morena.



Autoria: Charles Baudelaire

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