O presidente do Irão. O parceiro é desconhecido...
O prazo dado pelo Conselho de Segurança da ONU ao Irão para cessar as suas actividades de enriquecimento de urânio terminou ontem. O discurso dos líderes iranianos, em particular do seu, apenas aparentemente anedótico, presidente continua “firme e hirto”. O Irão, por sua vontade, não cessará as suas actividades na nada secreta procura da obtenção da arma nuclear, não tendo qualquer problema em ignorar as resoluções do Conselho de Segurança da ONU.
No plano interno, a linha dura do xiismo religioso vai perdendo a sua face mais cordata. Nas escolas iranianas começou já a separação física de homens e mulheres, nos locais até hoje frequentados, num ambiente “quasi-ocidental” começam a surgir outras restrições, como a proibição de as mulheres poderem fumar em público, ou a instituição de regras sobre o que devem vestir. Outros sinais reveladores são as recentemente iniciadas operações de confiscação das antenas de satélite que permitiam aos cidadãos iranianos o acesso aos meios de informação não controlados pelo estado...
Os sinais são claros e vão sendo assumidos com maior naturalidade pelo regime iraniano. A máscara de um regime fundamentalista vai caindo. No Líbano, depois de uma guerra iniciada em consequência de acções do movimento por si apoiado e financiado, os catalizadores da destruição financiam agora a reconstrução do Líbano, prosseguindo na sua batalha pelos “corações libaneses”, atráves da entrega de dinheiro aos cidadãos que viram bens destruídos em consequência da guerra (o que, de novo, por si só, nada teria de mal, apesar da ironia de se ter quem financiou o movimento que desencadeou a guerra a financiar a reparação de alguns dos danos materiais que dela resultaram).
Uma coisa é clara, desde já. Há um regime fundamentalista no Irão, que tem pretensões de dominação regional, que procura activamente a arma nuclear, que tem seguido uma estratégia discreta, inteligente, mas eficaz, para atingir os seus objectivos. As consequências para o equilibrio regional e até para o bem estar económico, para a paz no Ocidente, (de que fazemos parte) que poderiam resultar da obtenção da arma nuclear não são difíceis de imaginar.
Ironicamente, o regime sunita de Saddam Hussein sempre funcionou com um factor de contenção do expansionismo xiita iraniano. Com a invasão americana esse papel terminou. Infelizmente, há outra consequência muito negativa: a ameaça de uma solução militar para a resolução do problema nuclear iraniano saiu fortemente prejudicada pelo isolacionismo americano no avanço para a guerra no Iraque. O problema é que dificilmente haverá solução não militar para este problema e, até Israel, que no passado tinha terminado com uma situação similar no Iraque, não parece em grande posição para poder dar a ajuda necessária... As consequências podem ser graves. Fundamentalismo religioso e bomba atómica não são a associação mais tranquila para o Ocidente... e para as monarquias árabes do Golfo que asseguram um dos bens essencias para a evolução económica desse mesmo Ocidente.
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