quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

Que podemos pensar?





Há cerca de um mês iniciei neste blog o meu pequeno contributo por uma luta que, independentemente do resultado do referendo de dia 11, valeu a pena. Vale sempre a pena lutar por princípios, por causas tão determinantes como o valor da vida humana, um valor dos mais preciosos que podemos tentar preservar.

Quem perde os seus valores, acaba por se descaracterizar e, mais tarde ou mais cedo, por definhar, e mesmo morrer. A sociedade em que vivemos é uma sociedade onde o peso do prazer individual é cada vez maior, onde cada vez mais o”eu” gigantesco assume a primordial importância, em detrimento da preservação de valores comuns. É uma sociedade onde, piedosamente, e nas alturas adequadas, todos rejeitam o consumismo, todos denunciam a falta de humanidade crescente. A facilidade de criticar os outros está sempre presente, são os outros, apenas, os responsáveis por esta sociedade cada vez mais desumana em que vivemos...
E, no entanto, às vezes é tão fácil podermos fazer a diferença... A situação do referendo é paradigmática.

Que podemos pensar e dizer de uma sociedade, de um país, onde cada vez mais o fardo financeiro da saúde cai sobre os cidadãos, onde internamentos, cirurgias são objecto de taxas que levem ao seu “consumo” em forma moderada, onde se fecham serviços de urgência e maternidades, onde há dificuldades para suportar procedimentos tão essenciais como a hemodiálise, mas onde o frugalíssimo ministro tem 10 milhões de euros para pagar abortos sem encargos para as mulheres que os fizerem?

Que podemos pensar de uma sociedade, de um país, com natalidades sucessivamente negativas, onde a adopção de crianças é um pesadelo burocrático pejado de dificuldades para os candidatos a pais adoptivos, onde o acessos dos casais com dificuldades reprodutivas a serviços atempados é dificílimo, onde o apoio a quem quer ter mais filhos é inexistente, mas onde se elege como prioridade política (e financeira – 10 milhões por ano são 10 milhões por ano!!!) a morte de crianças por nascer, nas instituições públicas de saúde?

Que podemos pensar numa sociedade que tem o futuro hipotecado porque não assegura a renovação geracional, onde o futuro é cada vez menos cidadãos activos a pagar as reformas de quem já deu o seu contributo, mas onde se prefere financiar a morte de crianças por nascer, em vez de se promover uma política que aumente a natalidade e evite ou diminua este descalabro financeiro anunciado da segurança social?
Que podemos pensar de uma sociedade, de um país, onde quem defende a morte de crianças por nascer, se arvora, sem rebuço, sem peso na consciência, em defensor da vida?

Que podemos pensar de uma sociedade, de um país, onde se pretende fazer crer que o que está em jogo é evitar que mulheres que abortem vão presas, quando nenhuma está presa e quando, se o objectivo fosse o anunciado, bastava mudar a lei para retirar a penalização das mulheres, e apenas isso, sem permitir que o aborto até às 10 semanas seja possível, sem qualquer limitação?

Que podemos pensar dos líderes que assim determinam estas prioridades, que tinham a obrigação de gastar o pouco dinheiro que há no que é verdadeiramente importante, mas que se deixam arrastar, exibindo uma estranhíssima e profundamente errada ideia de modernidade, para este caminho?

Que podemos pensar de uma sociedade, de um país, onde o valor da vida é deixado como uma matéria da consciência dos “outros”?

O que eu penso é que esta é uma sociedade sem rumo, sem líderes, sem princípios, onde muitos reclamam mais e mais, mas são capazes de dar menos e menos, excepto ao serviço da pessoal conveniência e prazer... é uma sociedade hipócrita onde os valores professados não passam de mera decoração, usados como flores à lapela, mas onde tantos parecem praticar a ”Pilática” lavagem de mãos.

Esta sociedade, estes líderes, este entorpecimento colectivo, conduzir-nos-ão à auto destruição. Quem não consegue renovar-se, morre. Tal futuro não é inevitável e o próximo dia 11 é uma excelente oportunidade para mostrarmos que os líderes podem ser cegos, que o caminho pode ser errado, mas que há, felizmente, quem se preocupe com este caminho de decadência hedonista e o procure evitar.

O contributo de cada um é simples, mas importante. O contributo é VOTAR NÃO!

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