Escrevo em testamento este poema.Que ele tenha, na angústia com que o ligo, O brilho rutilante duma gema achada nos farrapos de um mendigo. Ao vesperal crespúsculo da vida e sob o olhar é que o componho; Erguendo assim, por minha despedida,O último escalão dum alto sonho. Este poema é dedicado a todos os que como eu tiveram um grande sonho.
domingo, 25 de fevereiro de 2007
Correia de Campos, o imparável reformador
O Ministro da Saúde, António Correia de Campos, reputadissimo conhecedor do sector, um dos poucos teólogos de serviço no que a Serviço Nacional de Saúde diz respeito, prossegue a sua marcha reformista, com a subtileza de elefante em loja de porcelanas. Depois de ter presenteado o país com inovadores desincentivos ao recurso a cirurgias e ao internamento, com as já famosas taxas moderadoras, depois de, sem hesitação, ter fechado maternidades a torto e a direito, o reformador ministro voltou-se agora para a “reformulação” da rede de urgências.
Sempre apoiado no parecer de comissões técnicas acima de qualquer suspeita, o ministro prossegue, incansável, a sua missão reformista, cujo único propósito, como todos sabemos, é única e exclusivamente, melhorar as condições em que se prestam os cuidados de saúde a todos os portugueses. Sim, porque não é de poupar dinheiro que se trata, nada disso. Trata-se de melhorar a rede de urgências no que, diz o ministro, situação da qual podem até resultar aumentos de custos, com o equipamento adequado dos serviços que restarem, depois do encerramento. Pois...
A verdade é que, depois de várias tentativas frustradas, o ministro conseguiu pôr o país em polvorosa. Marchas lentas, manifestações generalizadas, tudo tem servido para que se faça sentir o descontentamento de quem vê na lista de serviços de urgência a encerrar, o serviço da sua terra. E, surpresa das surpresas, até autarcas e quadros políticos locais do partido do governo ameaçam juntar-se à onda de contestação...
Numa reviravolta de espectacularidade proporcional à elevada sensatez das intervenções públicas do ministro, o reformador ministro, nada impressionado com a contestação generalizada á bondade da reforma em curso, apesar da reunião com um “preocupado” primeiro ministro (encontraram-se, certamente, na Torre de Marfim, onde Sócrates descansa das agruras da governação diára, e de onde sai só para participar em bem encenadas operações mediáticas) bateu um record de rapidez, logo ele, que preside a um ministério conhecido pelas famosissimas listas de espera para cirgurgia: em menos de 24 horas (Dn dixit), assinou protocolos com 6 autarquias que, num ápice, passaram de uma situação em que os respectivos serviços de urgência se encontravam na lista dos que iam ser encerrados ou “despromovidos”, a outra em que, não só viram garantida a manutenção dos serviços de urgência, mas asseguraram igualmente melhorias nos horários de funcionamento de centros de saúde e viaturas especializadas em atendimento urgente... É caso para dizer: quem não chora...
O problema é que, com este tipo de estonteante mudança de estratégia, o reformador ministro deita por terra, sem qualquer rebuço, a eventual bondade da dita reforma e a própria seriedade com que as respectivas propostas podem ser encaradas.. Afinal, as decisões de encerramento são decisões com forte suporte técnico, ou não? Se são, como se pode mudar tudo, de um dia para o outro? Como se pode passar de uma situação em que se fecham serviços para outra em que os serviços a fechar são, afinal, reforçados?!
Correia de Campos provou uma verdade de todos conhecida, embora mais habitual na rapaziada do futebol: o que é verdade hoje, é mentira amanhã. Pelo caminho, deu cabo da própria capacidade de reformar o que quer que seja, pelo menos com a expectativa de poder ser visto pelos afectados por essas reformas, como alguém credor de respeitabilidade e credibilidade.
É pena. Confesso que os argumentos técnicos apontados pelo ministro pareciam respeitáveis. Ficou agora claro que não passam senão de adereços da farsa levada a cabo pelo incansável e reformador ministro da saúde: o aldrabão (político, bien entendu) António Correia de Campos.
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