sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Ota, ou a insustentável leveza da governação

O nosso irredutível Primeiro Ministro, o Sr. José Sócrates Pinto de Sousa hoje, 11 de Janeiro do ano da Graça de 2008, parece um pouco menos irredutível. Depois dele, e de alguns dos seus incansáveis ajudantes, em particular o Sr. Mário Lino, engenheiro com carta passada pela Ordem dos ditos (ao contrário do seu chefe, uma vez que nem o famoso diploma da defunta Universidade Independente abre as portas da dita Ordem ao nosso irredutível PM), terem andado tempos sem fim a proclamar a inevitabilidade da Ota como novo aeroporto de Lisboa, eis que a coisa mudou por completo. Aquilo que era inevitável passou à história e o novo aeroporto será em Alcochete, por decisão do irredutível PM, apoiado num parecer de um laboratório governamental que, aparentemente, ninguém se atreve a rebater.

Aqui, no Crepúsculo, sempre defendemos a loucura demagógica que representaria a construção do aeroporto na Ota. Estamos, por isso, satisfeitos por o erro ter sido emendado, mas apenas neste caso particular. Todo o processo que culminou nesta decisão não deixa, contudo, de nos levantar grandes dúvidas.

O que teria acontecedo se alguns técnicos de renome (alguns professores do IST) ou personalidades da vida pública, como Sousa Tavares, Rui Moreira, ou jornalistas como José Manuel Fernandes, não tivessem insistido no erro da Ota?
O que teria acontecido se o Presidente da República, Cavaco Silva, não tivesse intervido no sentido de apelar a um debate aprofundado e a um estudo adequado das diferentes hipóteses?
O que teria acontecido se a CIP não tivesse resolvido financiar o estudo que “levantou” Alcochete como hipótese possível?

É simples perceber o que teria acontecido. O aeroporto seria na Ota e daqui a umas dezenas de anos, quando todos os problemas que hoje se apontam à Ota, e que já poucos se atrevem a contestar, seria tomada a decisão de construir um outro aeroporto, malbaratando os escassos recursos de um pobre país como o nosso, estando o nome de todos os tristes protagonistas deste episódio, certamente esquecidos.
Nesta questão do esquecimento, há dois nomes que queremos destacar, pela perniciosidade da respectiva actuação. Um deles, João Cravinho, outro engenheiro, talvez com carteira passada pela ordem, a quem já devemos o insustentável fardo das SCUT. Pois o homem, sempre elogiado como um incansável servidor da coisa pública, do refúgio londrino onde aufere salários de nível mundial, continua imparável a defender a Ota. Nem o erro crasso das SCUT o faz corar de vergonha, nem isso o impede de nos importunar com a defesa da Ota que, como agora se vê, seria tão ou mais monstruosa que as SCUT. O outro nome, claro, só pode ser o do Sr. Mário Lino, de quem o 'jamais, jamais' relativo ao “deserto” da margem sul, ficará para a história. Mário Lino também não tem vergonha, porque se a tivesse, não permaneceria no governo, depois de ter defendido tão cegamente uma hipótese que agora foi tão “levemente” descartada.


Cravinho, o desbaratador de dinheiros públicos


Se nos lembrarmos de algumas decisões recentes relativas a obras públicas (os estádios do Euro, o metro no Rossio, o Alqueva, as famosas SCUT, a interminável remodelação da linha do Norte), quantos seriam diferentes se tivessem passado por um processo semelhante a este? Quantas decisões “inevitáveis” teriam sido diferentes? Em quantos processos de decisão se admitiu, com seriedade, um mecanismo de contraditório, uma análise aprofundada e criteriosa, levada a cabo por pessoas independentes e não pelos amigos de ocasião, ou por gabinetes contratados para levar a cabo estudos com conclusões pré-definidas?

A forma como se governa este país revela uma insustentável leveza. O comportamento de João Cravinho, um dos ministros de cujas decisóes maior prejuízo tem resultado para o país, revela isso mesmo. Gostaríamos que a decisão sobre o aeroporto de Lisboa marcasse o início de uma forma diferente de lidar com este tipo de problemas, mas a esperança de que assim seja é, temos de o admitir, inexistente!

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