Um dos golpes baixos do luso futebol
O nacional futebol proporciona-nos sempre interessantes casos de estudo sobre o comportamento do bicho homem... especialmente quando se tratam de questões relacionadas com dinheiro ou a relação com os poderes fácticos. Escolhi algumas situações, ao calhas, como diria o outro, que dão conta do peculiar comportamento da dita fauna. A ficção e a realidade misturam-se livremente no texto, ou não fosse isso o que vemos todos os dias!
1. João Pinto e os 4 milhões de euros
Os 4 milhões de euros pagos a João Pinto continuam a ser um caso de estudo. Começou o caso com a acusação a José Veiga, Dragão de Ouro e Director Desportivo do meu glorioso SLB (o que dá logo um sinal da peculiaridade do futebol!) de fuga ao fisco, branqueamento de capitais, e outros crimes inanarráveis.... O famoso jogador (ainda tenho na memória o gancho subrepticiamente infligido ao árbitro, no distante mundial da Coreia) convocado para prestar declarações há cerca de um mês, fê-lo, e o Dragão de Ouro José Veiga permaneceu arguido, a gritar a plenos pulmões a respectiva inocência e a vomitar ameaças (como convém a um bom dragão!).
Eis que, surpresa das surpresas, João Pinto, esmagado pelo insuportável peso da consciência (está-se mesmo a ver, não é?!), um mês depois, admite ter mentido na primeira declaração prestada à Judiciária (o que é crime) e afinal reconhece ter recebido os 4 milhões de euros, a título de pagamento de uma transferência à altura dita de custo zero (!!!), assegurando que era suposto ser o Sporting a pagar o IRS respectivo! O Sporting, paradigma supremo da transparência e da qualidade da gestão no pátrio futebol (de que é exemplo esta espantosa transferência a custo zero que custa 4 milhões de euros), ignorando a violência exercida sobre a matemática (400,000,000 = 0 ?!?), veio simplestemente afirmar que, afinal, quem tem de pagar o IRS é o jogador João Pinto... Espera-se que o despique seja desempatado pela Direcção Geral das Contribuições e Impostos, porque se mandam um dos árbitros domingueiros, já sabemos qual é o resultado!
Como é diferente o mundo do futebol!
2. Gilberto Madail os arguidos e os acusadores
O ainda presidente da Portuguesíssima Federação do pontapé na bola, conseguiu algo que nem Maomé conseguiria: juntou na sua lista de candidatos aos órgãos da F.P.B., arguidos no infame caso Apito Dourado, e procuradores responsáveis pela investigação do mesmo. Não bastava a estranheza do facto, e o candidato mor ainda se atreveu a dar uma espantosa justificação: numa democracia todos são inocentes até que se prove que são culpados!
Não há dúvida, Dr. Madail, o melhor para dirigir a arbitragem são pessoas com uma grande experiência em tudo o que a envolve. Nada melhor do que pôr os arguidos na lista, já que conhecem os meandros, e põem-se os procuradores na mesma lista, como garantia de que os arguidos não voltarão a pôr o pé em ramo verde... Espantoso!
Como é diferente o mundo do futebol!
3. Laurentino Dias, o justiceiro
Laurentino Dias prossegue, incansável, a sua luta contra a batotice no futebol nacional. Depois de uma infatigável luta, levada até às ultimas instâncias, em que o conhecido facínora, Nuno Assis, foi finalmente condenado, as próximas batalhas do inefável Secretário de Estado já estão definidas:
- Nomear uma comissão de combate à corrupção no futebol português. Os convites já estão feitos: Valentim Loureiro, João Loureiro, Pinto de Sousa, Pinto da Costa, Francisco Silva, José Guímaro e Carlos Calheiros;
- Para afastar a comissão da infernal ruideira à sua volta, que impediria um trabalho profícuo, a comissão irá em retiro espiritual para o Brasil;
- Os contribuintes não precisam de ficar preocupados, porque não se gastará qualquer cêntimo dos contribuintes com a deslocação e estadia em terras de Vera Cruz. Foi para isso que foi convidado o famoso árbitro Calheiros – ele sabe tudo sobre viagens gratuitas ao Brasil.
E agora repitam todos comigo: Ah, como é diferente o mundo do futebol!
Até prá semana!