segunda-feira, 26 de setembro de 2005

Uma preocupação




Queridos amigos quero partilhar com vocês este tema…

O futuro da nossa música poderá ser uma espécie de hip-hop do tipo Americano, o destino da nossa culinária poderá ser o Mac Donald’s.

Falamos da erosão dos solos, da desflorestação, mas a erosão da nossa cultura é ainda mais preocupante.

O nosso corpo social tem uma história similar de um indivíduo. Somos marcados por rituais de transição: o nascimento, o casamento, o fim da adolescência, o fim da vida.

Eu olho a nossa sociedade urbana e pergunto-me: será que queremos realmente ser diferentes? Porque eu vejo que esses rituais de passagem se reproduzem como fotocópia fiel daquilo que eu sempre conheci na sociedade. Dançamos a "valsa", com vestido comprido, num baile de finalistas que é decalcado daquele do tempo dos meus avós, e acreditamos que tudo é novo e que tudo mudou. Copiamos as cerimónias de final de "curso" a partir de modelos de outros países por exemplo Inglaterra .

Falei da carga de que nos devemos desembaraçar para entrarmos a corpo inteiro na modernidade. Mas a modernidade não é uma porta apenas feita pelos outros. Nós somos também carpinteiros dessa construção e só nos interessa entrar numa modernidade de que sejamos também construtores.

A minha mensagem é simples: mais do que uma geração tecnicamente capaz, nós necessitamos de uma geração capaz de questionar a técnica. Uma juventude capaz de repensar o país e o mundo. Mais do que gente preparada para dar respostas, necessitamos de capacidade para fazer perguntas. Portugal necessita de descobrir o seu próprio caminho num tempo conturbado e num país sem rumo. A bússola dos outros não nos serve, o mapa dos outros não ajuda. Necessitamos de inventar os nossos próprios pontos cardeais. Interessa-nos um passado que não esteja carregado de corruptos, interessa-nos um futuro que não nos venha desenhado como uma receita financeira.

A Universidade deve ser um centro de debate, uma fábrica de cidadania activa, uma forja de inquietações solidárias e de rebeldia construtiva. Não podemos treinar jovens profissionais de sucesso num oceano de falsas promessas. A Universidade não pode aceitar ser reprodutora da injustiça e da desigualdade. Temos de lidar com jovens e com aquilo que deve ser um pensamento jovem, fértil e produtivo. Esse pensamento não se encomenda, não nasce sozinho. Nasce do debate, da pesquisa inovadora, da informação aberta e atenta ao que de melhor está a acontecer no mundo.

A questão é esta: fala-se muito dos jovens. Fala-se pouco com os jovens. Ou melhor, fala-se com eles quando se convertem num problema. A juventude vive essa condição ambígua, dançando entre a visão romantizada e uma condição maligna, um ninho de riscos e preocupações (a SIDA, a droga, o desemprego).
Um abraço

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