Escrevo em testamento este poema.Que ele tenha, na angústia com que o ligo, O brilho rutilante duma gema achada nos farrapos de um mendigo. Ao vesperal crespúsculo da vida e sob o olhar é que o componho; Erguendo assim, por minha despedida,O último escalão dum alto sonho. Este poema é dedicado a todos os que como eu tiveram um grande sonho.
sexta-feira, 26 de agosto de 2005
A Amizade
Capítulo VI
DEFINIÇÃO E EXCELÊNCIA DA AMIZADE
A amizade é uma suma harmonia nas coisas divinas e humanas, com benevolência e amor. Dons tão grandes, que não sei se os Deuses concederam (exceto à sabedoria), outro maior aos mortais. Preferem uns a riqueza, outros a boa saúde, outros o poder, outros as honras, e, muitos, os prazeres. Estes últimos são só muito próprios das bestas, e o outro caduco e perecível, dependente não do nosso arbítrio, mas da inconstante fortuna. E assim discorrem nobremente os que constituem o sumo bem na virtude e esta mesma é a que engendra e mantém as amizades, de modo que, sem ela, não pode existir amizade de modo nenhum. Interpretemos, pois, a virtude, como costumamos entendê-la, pelo uso comum da vida e não ameacemos como alguns doutos por certa magnificência de palavras. Contemos por bons aos que por bons são tidos, tais como os Paulos, os Catões, os Galos, os Cipiões, com os quais se contenta o comum da vida, e deixemos aqueles dos quais nos é impossível falar. Entre tais sujeitos, tem a amizade tantas conveniências quantas não saberei eu dizer.
Porque em primeiro lugar, como pode ser suportável (como diz Enio) a vida que não repousa na mútua benevolência de um amigo? Que coisa tão doce como ter um com quem falar de todo tão livremente como consigo mesmo? Seria porventura tão grande o fruto das prosperidades, se não tivéssemos quem delas se alegrasse, tanto quanto nós mesmos? E se poderiam sofrer as adversidades sem alguém que as sentisse ainda mais que aqueles mesmo que as experimentaram? Finalmente tantas quantas coisas se apetecem, cada uma tem o seu uso particular: a riqueza, para o uso; o poder, para a veneração; as honras, para o aplauso; os prazeres, para o gozo; a saúde, para não sentir dores e ser expedito nos exercícios culturais; a amizade abarca muitas cousas; para qualquer parte que nos volvamos a encontrarmos solicita, em todos tem lugar, nunca é impertinente, jamais molesta. De modo que não usamos mais da água e do fogo, como dizem, que da amizade. E não falo agora de uma amizade vulgar ou mediana (embora também esta deleite e aproveite), mas da verdadeira e perfeita, como foi a daqueles poucos que são tão afamados. Esta faz mais abundantes as prosperidades e as adversidades, rompendo-as e unindo-as, tornando-as mais suportáveis. Fonte.
Autor: Cícero, "Diálogo sobre a Amizade".
Bom fim de semana a todos.
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